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Pancreatite aguda — o essencial que você precisa saber
Neste artigo você vai entender de forma direta o que é a pancreatite aguda, por que ela acontece, quais são os sintomas e como é feito o diagnóstico e o tratamento. Vou explicar de maneira clara, como se estivéssemos conversando no consultório.
- Pancreatite aguda = inflamação súbita do pâncreas
- Enzimas pancreáticas ativadas no próprio órgão causam autodigestão e inflamação sistêmica
- Principais causas: cálculos biliares e álcool
- Sintomas: dor abdominal intensa, náuseas e vômitos
- Tratamento: hidratação, analgesia e suporte nutricional; intervenções cirúrgicas ou endoscópicas quando indicadas
O que você precisa saber sobre pancreatite aguda
Às vezes a dor que parece azia — no meio do tórax/epigástrio e que vai para as costas — pode ser pancreatite aguda. Vou resumir o que acontece no corpo, quando suspeitar, quais exames normalmente pedem e como costumam tratar.
Como a doença aparece — a mecânica por trás
Imagine o pâncreas como uma fábrica de enzimas digestivas. Essas enzimas ficam inativas até chegarem ao intestino. Se forem ativadas dentro do pâncreas, começam a digerir o próprio órgão (autodigestão), gerando:
- Ativação de enzimas como tripsina, fosfolipase A2 e elastase
- Participação de lisossômicos (ex.: catepsina B) que amplificam a ativação
- Inflamação local com recrutamento de neutrófilos e macrófagos
- Lesão das membranas celulares, edema, hemorragia e necrose
- Possível evolução para SIRS (resposta inflamatória sistêmica) e falência de órgãos
Em resumo: as enzimas que ajudam a digerir alimentos viram armas contra o próprio pâncreas.
Quadro clínico — o que você sente
O sintoma mais marcante é a dor abdominal. Preste atenção:
- Dor intensa no epigástrio, que pode irradiar para as costas, tórax ou flancos
- Dor em faixa, muitas vezes incapacitante; alívio parcial ao inclinar‑se para frente
- Náuseas e vômitos frequentes
- Abdome distendido por hipomotilidade intestinal
- Sinais gerais: sudorese, febre, taquicardia, sinais de desidratação; em casos graves, choque
- Sinais cutâneos (equimoses) são raros e sugerem necrose ou sangramento
Diagnóstico — regras práticas
Para confirmar pancreatite aguda precisa haver pelo menos duas das três características:
- Quadro clínico típico (dor epigástrica compatível)
- Aumento das enzimas pancreáticas (amilase e/ou lipase) > 3× o limite normal
- Imagem compatível com pancreatite
A lipase é mais específica que a amilase e é o exame preferido. Atenção a situações que alteram os exames: hipertrigliceridemia muito alta e insuficiência renal podem dificultar a interpretação.
Valores de referência aproximados:
Enzima | Valor de referência |
---|---|
Amilase sérica | < 160 U/L |
Lipase sérica | < 140 U/L |
Exames que os médicos pedem — o que cada um revela
Exames laboratoriais
- Lipase: mais específica
- Amilase: sobe rápido, menos específica
- Função hepática (ALT, AST, GGT, bilirrubinas): avalia causa biliar
- Hemograma: infecção ou hemoconcentração
- Ureia e creatinina: função renal e hidratação
- Triglicerídeos: investigar hipertrigliceridemia como causa
- Gasometria arterial: se houver comprometimento respiratório
Imagem
- Ultrassonografia abdominal: primeira opção para detectar cálculos biliares e dilatação das vias biliares; limitada por gás ou obesidade
- Tomografia (TC): avalia gravidade, necrose e coleções; indicada em casos moderados/graves ou dúvida diagnóstica
- Ressonância (RM) e colangio‑RM: detalha ductos e vias biliares quando necessário
Comparação rápida:
Exame | O que mostra | Quando pedir |
---|---|---|
Ultrassom | Cálculos, dilatação biliar | Investigação inicial (suspeita biliar) |
TC | Necrose, coleções, gravidade | Casos moderados/graves, dúvidas |
RM | Detalhe do ducto e vias biliares | Casos complexos ou TC inconclusiva |
Causas — os vilões mais comuns
A maioria dos casos é causada por duas condições:
- Litíase biliar (cálculos): um cálculo na ampola de Vater pode aumentar a pressão no ducto pancreático e permitir que sais biliares lesionem o pâncreas. Se for por cálculo, a colecistectomia durante a internação é recomendada quando possível.
- Álcool: crises podem surgir após ingestão intensa; nem todos que bebem desenvolvem pancreatite.
Outras causas: trauma abdominal, certos medicamentos, infecções, anomalias anatômicas, hipertrigliceridemia, e procedimentos endoscópicos.
Pancreatite no pós‑operatório
Risco após cirurgias abdominais (trauma direto) e algumas cirurgias cardíacas (circulação extracorpórea).
Pancreatite alcoólica crônica
Episódios repetidos por álcool levam a dano progressivo e insuficiência exócrina/endócrina; fatores genéticos influenciam a suscetibilidade.
Gravidade — leve ou grave?
- A maioria é leve e melhora em dias com tratamento de suporte.
- Casos graves evoluem para necrose pancreática, insuficiência de órgãos (respiratória, renal), infecções secundárias e necessidade de UTI.
- Não é possível prever com absoluta certeza quem vai piorar no início — monitoramento próximo é essencial.
Tratamento — como vão cuidar de você
O manejo inicial é de suporte:
- Jejum nas fases iniciais; reinício oral precoce se houver tolerância
- Controle da dor: opioides (ex.: hidromorfona) quando necessário
- Reposição volêmica agressiva nas primeiras 12–24 horas (Ringer lactato preferido)
- Correção de eletrólitos e monitorização (sinais vitais, débito urinário)
- Suporte nutricional: dieta oral pobre em gorduras quando tolerar; se não, nutrição enteral por sonda
- Antibióticos apenas com infecção comprovada
- Intervenções específicas: colecistectomia em caso biliar; CPRE se houver obstrução das vias biliares; drenagem ou cirurgia para necrose infectada
Plano básico: controle da dor → hidratação → suporte orgânico → investigar e tratar causa → nutrição precoce
Prevenção e cuidados
- Colecistectomia se pancreatite foi por cálculos biliares
- Reduzir ou evitar álcool se este foi o gatilho
- Tratar triglicerídeos altos para prevenir episódios por hipertrigliceridemia
- Manter peso saudável; obesidade aumenta risco de litíase e complicações
Quem tem mais risco
- Idade entre 25 e 75 anos (risco aumentado)
- Adiposidade abdominal (gordura central)
- História de consumo crônico de álcool ou cálculos biliares
- Alguns grupos populacionais apresentam maior incidência
O que esperar da internação
- Monitorização contínua de sinais vitais e débito urinário
- Controle da dor e da hidratação
- Exames seriados de sangue (função renal, hepática, inflamação)
- Imagem adicional se houver piora
- A maioria melhora em poucos dias; casos com falência de órgãos podem necessitar UTI
Sinais de alarme — volte ao hospital se tiver
- Dor abdominal muito intensa e persistente
- Vômitos contínuos que impedem hidratação
- Tontura, desmaio, pouca produção de urina (sinais de choque/desidratação)
- Febre alta, confusão, queda da pressão arterial
Resumo prático
- Pancreatite aguda = inflamação súbita do pâncreas, geralmente por cálculos biliares ou álcool
- Sintoma principal: dor abdominal intensa
- Diagnóstico: quadro clínico enzimas (lipase) ± imagem
- Tratamento: analgesia, hidratação e suporte nutricional; intervenções conforme causa/complicações
- A maioria se recupera, mas alguns casos evoluem para gravidade alta
Créditos e nota sobre o conteúdo
Conteúdo adaptado para linguagem simples, visando facilitar a compreensão de quem não é da área da saúde.
Conclusão
A pancreatite aguda pode surgir de forma súbita e causar dor intensa. O foco do tratamento é hidratar, controlar a dor e manter nutrição adequada, investigando e tratando a causa (ex.: colecistectomia quando há cálculo). Em caso de dor forte, vômitos persistentes, desmaios, febre alta ou pouca urina, procure emergência.
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Perguntas frequentes
- O que é pancreatite aguda?
Inflamação súbita do pâncreas causada pela ativação das enzimas digestivas dentro do próprio órgão.
- Quais os sinais e sintomas mais comuns?
Dor forte no epigástrio que pode irradiar para as costas, náuseas, vômitos, distensão abdominal, febre e taquicardia.
- Quais as causas mais frequentes?
Cálculos biliares e consumo excessivo de álcool (responsáveis pela maioria dos casos). Também trauma, medicamentos e triglicerídeos altos.
- Qual exame é melhor para diagnosticar?
Lipase é o exame laboratorial mais útil; a TC é indicada para avaliar complicações.
- Posso comer logo?
Se não houver náuseas e houver melhora, reintrodução oral com dieta baixa em gorduras é possível; se não, nutrição enteral.
- Quando devo procurar atendimento?
Dor abdominal intensa e súbita, vômitos persistentes, sinais de choque (tontura, pele fria, respiração rápida). Procure emergência imediatamente.